terça-feira, 27 de outubro de 2009

"Se eu não for por mim mesma, quem o será?"



Outrora, quando me deleitava
com a imagem refletida,
O espelho me devolvia
o rosto moldurado pelos cabelos loiros
onde o brilho do sol eu via.

Hoje, pálida imagem o espelho me mostra,
tento esconder a teimosa lágrima,
procuro a moldura do meu rosto,
mas nada encontro,
só me assombro,
com a minha expressão de desgosto.

Sei que ainda tenho nos olhos,
O brilho de quem luta pela vida,
mas não deixa de magoar,
abrindo mais a ferida,
ao me ver assim, sombra de quem
andava pelos caminhos a desfilar.

Mas não sou só aparência,
tenho alma,
tenho coração,
tenho ainda a decência
que me levanta quando a dor me joga no chão.

Não posso esquecer,
sou uma guerreira,
lutarei até o fim para vencer,
mesmo que esta hora,
agora,
seja a derradeira.

Sendo mais verdadeira,
Eu amo viver,
E não vou me entregar,
até que meus olhos venham cerrar
fechando a cortina de uma existência,
com muitos momentos para recordar,
de quem viveu,
sofreu,
amou,
cresceu
e não se entregou.
Partirei porque chegou à hora,
sempre repetindo a expressão,
que marcou meu coração:
“Se eu não for por mim mesma, quem o será?
E se eu for por mim somente, o que serei?
E se não agora, quando?" - Rabi Hilel Mishana

(Dedico este poema a uma pessoa especial Dr. Carlos, oncologista do Hospital Araújo Jorge - de quem recebi não só tratamento, mas a esperança de viver. Eu me sentia velha com os meus 24 anos, era o peso da doença, mas ele sempre repetia Rabi Hilel Mishana e mostrava outros pacientes em piores situações. Foi assim que ganhei forças para sobreviver - embora aquela pessoa de outrora tenha morrido naquele leito do hospital).

Mel L Frankust
Publicado no Recanto das Letras em 07/10/2007
Código do texto: T684875

Nenhum comentário:

Postar um comentário

É um prazer tomar conhecimento da sua opinião.

Mel.